Qualificação urbana
deve começar por bairros
Prof.
Dra. Maria Elizabet Paez Rodriguez
Entrevista
concedida a Herika Dias da Agência USP de Notícias em 06/02/2014.
A região mais
populosa da cidade de São Paulo, segundo o censo demográfico de 2010 do IBGE, é
a zona leste que abriga quase 4 milhões de pessoas. Isso representa cerca de
40% dos habitantes da cidade, e é justamente nessa área que estão os maiores
problemas urbanos como falta de equipamentos sociais e infraestrutura urbana de
qualidade, segundo uma pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU-
da USP. Por isso, um distrito dessa região, Cidade Tiradentes, foi escolhido
como exemplo real para se aplicar uma metodologia que pretende trazer qualidade
ao dia a dia dos moradores: a adoção de Planos de Bairro para replanejar áreas
carentes da cidade que cresceram de forma irregular.
O projeto alia
reestruturação dos espaços urbanos em escala local e melhor utilização do
transporte público, de acordo com as demandas socioeconômicas dos habitantes do
bairro. Essas ações regionais ajudariam corrigir as distorções do espaço urbano
em São Paulo, metrópole.
Segundo a
autora da tese de doutorado Planos Urbanos Locais: definição concreta para a
mobilidade e qualidade ambiental urbanas, Maria Elizabet Paez Rodriguez, um dos
pontos centrais para que os resultados da aplicação dessa metodologia sejam
positivos é o investimento público e incentivos a empresas, indústrias não
poluentes e estabelecimentos comerciais de médio porte a se instalarem nas
regiões carentes e gerarem mais postos de trabalho voltados ao morador local.
Isso pode melhorar um dos maiores problemas de São Paulo: a mobilidade urbana,
já que a maior parte da oferta de empregos está nas áreas centrais da cidade e
a maioria da população vive em regiões periféricas.
“Se o
contingente de trabalhadores que se desloca diariamente por grandes distâncias
para trabalhar ou estudar diminui, a superlotação do transporte público tende a
cair também e outras pessoas podem aderir ao transporte público, diminuindo o
número de automóveis nas vias de circulação de veículos. Passamos a um círculo
virtuoso no qual todos ganham qualidade urbana e qualidade de vida com isso”,
afirma Maria Elizabet.
A urbanista
explica que o Plano de Bairro pode ser aplicado em qualquer parte de regiões
metropolitanas do Brasil, mas no caso de São Paulo, o mais adequado é que se
adotem primeiramente em regiões carentes. “O objetivo principal é devolver ou
oferecer qualidade ambiental urbana, que envolve equipamentos públicos
suficientes como escolas, postos de saúde, praças, parques, calçadas adequadas
e acessibilidade, baixos níveis de poluição ambiental e ruas seguras que
atraiam o morador para atividades ao ar livre opcionais e não somente para
atividades obrigatórias, como sair à rua em direção ao trabalho ou à escola”.
Método
Na metodologia
mencionada são levantados todos os índices socioeconômicos e urbanos do local a
requalificar; em seguida, traça-se um perfil detalhado da população local, como
faixa etária, ocupação e nível educacional. “Então, calculam-se as quantidades
relativas a cada demanda, o que permite definir-se a dimensão real dessa
reestruturação em relação ao adensamento populacional ou à redistribuição das
populações residentes em áreas precárias para novas moradias e, ao número e
tipo de equipamentos públicos necessários”, explica Maria Elizabet.
Em relação à
mobilidade urbana, é feito estudo detalhado da capacidade de suporte do
transporte público local e como ele é conectado ao regional. Segundo Maria
Elizabet, “esse conhecimento permite que se distribuam novas moradias e
equipamentos públicos, complementando esse sistema de transporte público e
determinando a melhor localização dos pontos de embarque, a distâncias
confortáveis para todos os moradores, que consideramos 500 metros a partir do
local de moradia até o ponto de embarque em pelo menos um dos diferentes tipos
de transporte urbano”.
A urbanista
acredita que Planos de Bairro podem efetivamente eliminar ou diminuir as
carências encontradas em regiões, como Cidade Tiradentes. “Os resultados
esperados são a distribuição correta de serviços e equipamentos públicos no
espaço urbano, qualidade ambiental urbana e uma oferta mais consistente de
postos de trabalho próximos às moradias dos trabalhadores, o que é o mote atual
nos discursos dos administradores públicos: levar empregos onde vivem os
trabalhadores. Não é um movimento que apresente resultados em um ano, mas sim
em 5,10 e até 15 anos e, é inadiável”.
Sobre as
perspectivas de implantação de Planos de Bairros na cidade de São Paulo, Maria
Elizabet informa que no Plano Diretor Estratégico para o Município de São Paulo
2002/2012, que se encontra em fase de revisão, no artigo 269, previa-se a
adoção de planos de bairro com a participação das comunidades locais.
“Estão
previstos também no Estatuto da Cidade – Lei 10.257 de 10/07/2001, artigo 2º,
que determina a correção das distorções do crescimento urbano e a oferta de
equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados
aos interesses e necessidades da população e às características locais. Somente
um plano local foi realizado até o momento, o Plano de Bairro de Perus, cujo
projeto urbanístico completo é de autoria do arquiteto e urbanista professor da
FAU Candido Malta Campos Filho, mas ainda não foi implantado”.
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