As pessoas estão deixando de conversar neste início de século 21, preferem escrever mensagens de email ou torpedos por celular ou pela mais nova ferramenta, o Tweeter com seus limitados 140 caracteres. Não nos falamos mais por telefone, pois não estamos em casa nunca e quando estamos não temos tempo, já que temos que responder dezenas de mensagens por email.
Aquele hábito tão agradável de conversar sobre bobagens ou temas profundos em grupo ou em dupla em um restaurante por horas acabou, uma vez que a música está sempre em altíssimo volume nesses ambientes ou em bares, com honrosas exceções. A conversa migra para uma divertida troca de gritos e todos acabam meio roucos. Não é o mesmo. E as mesas dos restaurantes? Cada vez mais próximas umas das outras, que temos que encolher a barriga, o peito e levantar a bolsa para poder passar entre elas, ao chegar e ao sair, de forma a não esbarrar nossos pertences nas cabeças dos clientes da mesa ao lado.
O exíguo espaço entre mesas também exige que, ao apreciar um almoço acompanhados, falemos muito baixo nos aproximando do nosso interlocutor de forma a não compartilhar nossos segredos ou assuntos particulares com as pessoas da mesa ao lado ou nos obriga a fingir que não estamos escutando nada do que dizem os frequentadores vizinhos, principalmente quando estamos sós e não temos nada para nos distrair enquanto a comida não chega à mesa.
Em restaurantes localizados próximos a centros de negócios, o tema preferido das pessoas às mesas é trabalho, como se eles não tivessem falado sobre isso durante a manhã toda ou não tivessem pela frente um gorda tarde para tratar do assunto. Não, o tema continua sendo os negócios. Mas, qualquer que seja o assunto e mesmo que as mesas não estivessem cada vez mais juntas, a discrição deve ser mantida e assuntos relacionados a pessoas não presentes devem ser evitados, pois mesmo numa metrópole como São Paulo, a Deusa da Coincidência pode estar por perto pregando-nos uma peça, como o que ocorreu hoje durante meu almoço solitário em um restaurante lotado de um shopping localizado em uma área formada somente por edifícios de escritórios.
Sentei-me ao lado de uma mesa a 40 centímetros de distância da minha, onde estavam dois homens que conversavam sobre....trabalho. Um deles detinha totalmente o controle da conversa, falando de seu trabalho, cargo, empresa atual, empresa anterior e a anterior, até que passou a contar que a empresa onde trabalha atualmente fora comprada por outra, numa fusão e que o motivo fora o seu chefe e dono da empresa, que devia a Deus e a todo mundo e que a empresa estava indo muito mal, levando-o a vender. Até esse momento, eu que não levara protetores de ouvido, ouvia entediada o falatório, quando o matraca falou o nome da companhia, para a qual por coincidência, presto serviços de arquitetura há mais de 10 anos e cujos donos admiro por seu caráter e ética.
Fiquei chocada com a pretensa notícia e quando o colega do falastrão se levantou para servir-se de mais comida, aproveitei a oportunidade e lhe disse com todo o cuidado e falando bem baixo, que ele não deveria falar sobre assuntos privados de pessoas ausentes, pois ao lado poderia haver alguém que as conhecesse. O cidadão empalideceu e baixou o volume da própria voz e não pude mais ouvir o que dizia, por sorte! Aguardei o fechamento de minha conta e saí.
Citando Covey: "Quando alguém defende os ausentes, ganha confiança dos presentes."
Boa noite e até breve! MEPR
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