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Reciclagem informal

Quem não se deparou, enquanto dirige pelas ruas de São Paulo, com um carroceiro vindo na contramão ao seu encontro, com olhos arregalados, também temendo pelo pior? Muitos de nós passam por essa experiência assustadora quase todos os dias. Quem não passou ainda por isso imagine a cena: o sinal abre e você entra à esquerda como muitos outros veículos que repentinamente vão desviando de algo, do carroceiro vindo na contramão! Nessa hora os anjos da guarda de plantão e a baixa velocidade padrão atual em São Paulo ajudam, com certeza. Só crendo nisso!

Sou adicta à reciclagem e não entendo como algumas pessoas ainda misturam embalagens com restos de comida. Como se tem veiculado nas mídias, São Paulo tem atingido bons índices de reciclagem de materiais, mas apesar disso ainda estamos engatinhando nessa importante questão para o meio ambiente. O carroceiro sendo visto como a "formiguinha" que promove o transporte até os pontos de coleta é um pensamento muito amador, a meu ver. 

Se os carroceiros ajudam, eles também muito atrapalham, acho até que a balança pende  para um dos lados. Um contingente de pessoas que reformam seus imóveis não contrata as horrorosas caçambas de entulho, prefere dar um dinheirinho para o carroceiro que tira o entulho de uma porta e despeja na outra, corriqueiramente!

Sob o ponto de vista social então, a situação é ainda pior. Trabalhar puxando uma carroça carregada como se fosse um animal não pode ser bom. Beber para enfrentar essa situação humilhante de ganhar a vida é um dos mecanismos encontrados por homens, mulheres e até adolescentes que sobrevivem dessa atividade. 

Esses cidadãos vivem em pocilgas, trabalham em pocilgas, limpam de um lado e sujam de outro; largam lixo nas ruas onde se reunem para vender ou trocar os materiais recolhidos horas antes. 


Quem nunca viu pontos de recepção de materiais para reciclagem que vá conferir. Um dos locais frequentados é a região do Glicério, sob o Elevado Costa e Silva, que é mais ou menos organizado. 


Cruzando o rio Tamanduateí pelo elevado, chega-se à Mooca.  Siga pela Avenida Alcântara Machado (Radial Leste) e poucas quadras antes de cruzar a linha do trem, entre à direita na Rua André de Leão. Entre à direita novamente e desça a Rua da Mooca, onde verá à sua esquerda diversos imóveis degradados utilizados como depósitos insalubres de material reciclável e até as carroças ali estacionadas. Este trecho da Mooca rebatizado há 10 anos como Cambuci (política pública!?) está em processo de degradação urbana há anos e lá vivem imigrantes bolivianos ilegais e brasileiros muito pobres. 


Continuando o passeio, entre  à esquerda na rua Oscar Horta e à esquerda na rua Dom Bosco. Siga por ela até a Rua Barão de Jaguara, entre à esquerda nessa e à esquerda na rua da Mooca novamente. Com esse circuito pequeno terá uma visão nada romântica de uma faceta da reciclagem em São Paulo. Siga pela Rua da Mooca, pegue o novo elevado sobre o Tamanduateí e cairá no Glicério onde estão armazenados milhares de sacos de plástico preto com lixo e os carroceiros em torno, entre os pilares de concreto do elevado conhecido como Minhocão.

Exclusão e trocados é o que recebe em troca por colaborar com a reciclagem de materiais esse pobre morador da metrópole. Que me desculpem os ecoxiitas, mas prefiro reciclar o homem!

Tenham um bom dia e até breve!

MEPR

Comentários

  1. Realmente o trecho final da Rua da Mooca, quase chegando ao acesso da ligação Leste-Oeste é pavoroso;por pressão dos moradores da Mooca,empurraram aquele trecho para o Cambuci;Estou em uma obra na R Teresina,(Água Rasa)que rebatizaram de "Alto da Móoca" (até onde eu sabia,Alto da Móoca era no eixo da Paes de Barros);aliás alguns "moquenses"acham que seu bairro é um feudo mais nobre que áreas como Moema ou Jardins....

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